English | Español | Português | Italiano | Français | Deutsch | Nederlands | August 15, 2018 | Issue #29 | |||||
Na SombraEntre os prédios da Paulista, o editor do NarcoNews lança o ataque invisívelPor Karine Muller
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Ricardo Rosas |
É a primeira vez que Al Giordano desembarca no Brasil. Logo no primeiro passeio pela avenida Paulista, ele viu as torres de TV sobre os altos edifícios e observou: “Aqui está localizado o assento do poder. Nesta Avenida por onde passam milhares de pessoas, trabalhadores, pessoas pobres, as massas…”. Observação muito relevante para iniciar o mapeamento de suas impressões políticas sobre o país, conforme verificamos no final do seu discurso.
Mas, prosseguindo a sua fala para o público do Mídia Tática, Giordano fez uma reverência ao cartunista carioca Latuff, ali presente. Ele criou a Zapatista Art Gallery, site na internet que reúne cartoons sobre a luta dos guerrilheiros mexicanos. Amigos virtuais já há alguns anos, Giordano e Latuff conheceram- se pessoalmente durante o festival.
De Raoul Vaneigem, o “gringo”, como às vezes define- se, vai para a Paris de 1968, onde estava presente a jovem atriz Judith Malina, do Living Theater, grupo de teatro de Nova Iorque. Ela é a única dissidente da época, que Giordano teve a oportunidade de conhecer, entrevistar e tornar- se amigo. “Posso confirmar que Judith Malina ainda vive”, afirma ele. “Isto é o que esta grande revolucionária me contou sobre maio de 68”.
Tatiana Wells |
“Na noite de 10 de maio, barricadas estavam sendo jogadas em muitas ruas de Paris e outras partes da França”, continua Giordano. “Tensões nos campus universitários haviam explodido. E todos estes radicais do teatro, Judith, Julian e seus amigos, certamente queriam participar. “O que nós fazemos?” questionavam-se. “”Nós somos atores, dramaturgos, se a revolução é aqui, então qual é o nosso papel nela?””.
E o “cara” do Narconews prossegue a história até onde os revolucionários ocuparam o prestigiado Teatro Odéon, transformando-o numa espécie de “parlamento do povo”, em meio àquela “tempestade” de Paris. Cita Guy Debord da “Internacional Situationista”, ou IS, o qual afirma que maio de 68 na França, não foi uma greve das massas, mas uma greve de “gatos selvagens”, com a participação de alguns setores da classe trabalhadora, mas isenta de líderes dos sindicatos.
Giseli Vasconcelos |
Quando fala-se de Estado, inevitavelmente, acabamos caindo no conceito de Anarquismo. E Giordano dá o seu: “Anarquismo pra mim não é sobre tatuagens, brincos no nariz…ainda que eu goste disso. Ë sobre o que eu não gosto. Éuma negação”. E completa: “O Estado sempre foi um tirano, um abusivo. A tirania é um código genético do estado, eu não aceito o poder do Estado sobre mim”.
Al Giordano encerra a jornada de 1968, faz menção a explosão punk de 1975 de Nova Iorque, fala dos interesses capiltalistas dentro das Universidades e prossegue em seu discurso*** concluindo que “a nostalgia é uma forma de depressão”, como disse-lhe Abbie Hoffman quando tinha 20 anos. E vai para a Caracas de abril de 2002, onde Blanca Eekhout, 32 anos, uma das 26 estudantes graduadas da Escola de Jornalismo Autêntico, que aconteceu no último mês de fevereiro no México, estava presente e fez história. Blanca trabalha na Catia TV (TV comunitária de Caracas) e ao deparar-se com a grande mentira manipulada pela mídia sobre a “Renúncia de Chávez”, ela e a massa, o povo, invadiram a estação de televisão do Estado para dizer a verdade: Hugo Chávez não havia renunciado.
Além de uma revolucionária, Blanca é uma representante do povo venezuelano que toca o espírito de Al Giordano. Já quase no final de seu discurso no salão do SESC, ele diz que está muito feliz de estar no Brasil. E, um dia antes, no boteco da esquina, como dizem os paulistas, ou como diria ele em referência a Simón Bolivar, em algum lugar deste país chamado América, Giordano também foi tocado por um legítimo representante do povo brasileiro: Mestre Laurentino.
Este músico de 77 anos, roupas e anéis coloridos, veio do norte do país para, no meio do concreto da cidade de São Paulo, expressar a todos os experimentadores do Mídia Tática, a sua arte. Genuína, pura, sincera, sua música já foi gravada por grandes nomes como Gilberto Gil, Tom Zé e Paulo Moura. Com muito orgulho, o mestre disse ao jornalista autêntico que seu maior sucesso “Lourinha Americana”, gravada também pela banda Mundo Livre S/A, fala muito mal dos gringos. E depois deu um show particular com sua gaita a todos os presentes. Giordano aplaudiu.
o cartonista Latuff |
Para finalizar, o “quase” paulista, já muito à vontade diz: “O poder está localizado na sua alma de comunicação. Então onde estaremos quando chegar o momento revolucionário?”
O Festival Mídia Tática acabou. A Casa das Rosas, casarão construído no início do século por um dos barões do café, e que foi um dos espaços que abrigou o evento, corre o risco de virar… um banco.
Giordano questiona, mas a revolução é aqui e agora. Pode ser uma questão de percepção, não importa. Judith Malina, Raoul Vaneigem, Blanca Eekhout, Mestre Laurentino, os Mídia Taticistas, os prédios da Paulista com suas torres de TV, os anarquistas, os artistas, os jornalistas autênticos e Al Giordano são parte desta “máquina de guerra fora do estado” de Guattari e Deleuze.
Fazem sombra na Paulista, em São Paulo, na América Latina, no Rio de Janeiro, no México, em Nova Iorque… na América. Movem-se em direção ao farol da revolução, atacando e fugindo… invisíveis no céu escuro e silencioso.
* Hakim Bey é autor de TAZ um clássico do nosso tempo e uma das referências para anarquistas, acadêmicos, músicos, hackers, poetas, promotores de passeatas, organizadores de raves, e os chamados guerrilheiros da comunicação.** Salón Chingòn é uma referência a um salão imMidiático que está sendo proposto pelos estudantes da escola de jornalismo autêntico e que breve estará no ar para a discussão.
*** Como não é intenção desta reportagem, reproduzir na íntegra a fala de Al Giordano no encerramento do Festival Mídia Tática Brasil, convido os leitores a darem uma “espiada” no discurso que está sendo publicado neste site em português, inglês e espanhol. Ali os leitores podem ler mais sobre Judith Malina, Guy Debord, SI, Blanca Eekhout, Anarquismo, Nestor Makhno, Narconews etc.