The Narco News Bulletin

August 15, 2018 | Issue #40  
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Zapatistas Reloaded

A morte de Ramona pressiona o botão de reinício na turnê de 6 meses de Marcos pelo México

Por Andrew Kennis
Especial para The Narco News Bulletin

9 de janeiro 2006
Esse artigo foi publicado originalmente na Internet em http://www.narconews.com/artigo.php3?ArtigoID=1544

SAN CRISTÓBAL DE LAS CASAS E TONALÁ, CHIAPAS, MÉXICO: Em um comunicado expedido ontem à noite, o Subcomandante Marcos anunciou que os Zapatistas continuarão sua "Outra Campanha" de seis meses por todo o país com um atraso de 3 a 7 dias. A campanha foi temporariamente paralisada por causa da morte da Comandanta Ramona, na última sexta-feira.

O itinerário para os próximos seis meses da Outra Campanha dos Zapatistas - na qual Marcos, como "Delegado Zero," vai visitar todos os 31 estados mexicanos, além do distrito federal - foi reprogramado, e recomeça hoje de onde parou na última sexta-feira, na cidade litorânea de Tonalá. Outra mudança no itinerário original consiste na decisão de que a campanha visitará primeiro Quitanna Roo ao invés de Yucatán, para depois seguir a costa para Chetumal, Playa de Carmen e Cancún. O time para um Outro Jornalismo está no momento em Yucatán e vai prosseguir seus trabalhos a partir daí. Outras mudanças incluem o cancelamento da visita a Comítan, em Chiapas, uma base importante de apoio para os Zapatistas. Mas não foi cancelada a visita à grande comunidade indígena de Huixtla, afetada pelo recente furacão. Seguindo o novo itinerário, a campanha deve chegar amanhã ao local.

A suspensão temporária da campanha aconteceu imediatamente após o anúncio público da morte da Comandanta Ramona, transmitido de maneira repentina e inesperada durante a visita da campanha em Tonalá. O Subcomandante Marcos se retirou abruptamente de um encontro do tipo assembléia popular, e uma hora depois reapareceu, com lágrimas nos olhos e visivelmente abalado, para fazer o anúncio emocionado sobre a morte de Ramona. Logo depois do anúncio, a "Sexta Comissão", grupo que coordena a campanha, formado por comandantes indígenas e pelo Subcomandante Marcos, viajou durante 7,5 horas até Oventic, onde o funeral de Ramona aconteceu no sábado. O funeral foi fechado para a imprensa e para o público em geral.

A retomada da campanha pela costa de Chiapas acontece após alguns eventos dignos de nota. No trajeto para Tonalá na última sexta-feira, Marcos fez uma visita surpresa a El Amate, uma prisão em Chiapas. O auto-denominado Delegado Zero caminhou para o portão de entrada em direção a guardas armados, num momento cheio de suspense e tensão. Marcos disse aos guardas que há companheiros dos zapatistas na prisão e exigiu que seus direitos humanos sejam respeitados. E enviou uma mensagem de solidariedade para os prisioneiros através dos guardas, que ainda estavam muito surpresos com a intervenção.

Outra parada foi feita na pequena cidade de Arriaga. Marcos saudou algumas centenas de companheiros recebendo cartas e reclamações, de acordo com o objetivo da Outra Campanha de escutar as pessoas "simples e humildes" do México. Depois, prosseguiu para Tonalá.


Marcos na vila de Arriaga.
Foto: D.R. 2006 Andrew Kennis

Em Tonalá, uma reunião pública aconteceu no auditório e quartel-gereal do grupo Frente Cívica Tonalteco. A reunião inaugural foi parecida com a que aconteceu na semana passada em Maravilla, um bairro indígena pobre na periferia de San Cristóbal. Em Tonalá, no entanto, moradores que não são tão politicamente ativos quanto aqueles que falaram na reunião de San Cristóbal tiveram um papel mais decisivo. Donas-de-casa, vendedores de frutas, o irmão mais novo de um imigrante, repórteres locais e um membro da comunidade indígena de Tulijá estavam entre os que falaram sobre problemas que o governo não procura resolver. Entre as reclamações ouvidas estão a falta de empregos na região e o conseqüente problema com imigração, altas contas de água e luz no estado que fornece a maior parte da eletricidade da Cidade do México e a falta de oportunidades de estudo para os mais jovens.

Pedro, um indígena Chol de Tulijá, perguntou a Marcos se ele iria concorrer à presidência dentro de seis anos, e abandonar o movimento. O Delegado Zero respondeu com um não definitivo. Então, Pedro pediu que melhores vias de comunicação fossem abertas com os zapatistas, de modo a construir uma nação nova e mais democrática.

Depois de escutar atentamente durante horas e fazer anotações, Marcos respondeu: "Identifico alguns temores: O que vai acontecer com o movimento? Posso ver em todos vocês o medo de que os líderes virem corruptos, ou que os abandonem para entrar no jogo político. O que estamos tentando fazer é assegurar para todo mundo que a todo momento os companheiros e companheiras serão levados em consideração".

Abrir vias de comunicação é a essência da Outra Campanha, que tem o objetivo final de estabelecer uma aliança de esquerda, não-eleitoral e independente para implementar uma nova constituição anti-neoliberal.

Essas e outras promessas não cumpridas - tais como conseguir a implementação dos acordos de San Andrés para a autonomia indígena no México - certamente seriam a melhor maneira de honrar a memória da Comandanta Ramona.



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